O artigo de Miguel Sousa Tavares, "Eu prefiro Chávez" [em comparação com o Bush, a que chamo, eufemisticamente, "o arbusto"], termina com esta curiosa nota de política linguística:
"PS - Há mais de dez anos que vivemos com esta espada suspensa sobre a cabeça: quando não têm mais nada com que se entreter para exibir a sua importância, os senhores da Academia das Ciências e os ministros dos Estrangeiros gostam de nos ameaçar com o acordo ortográfico, cujo objectivo único é por-nos a escrever como os brasileiros, assim lhes facilitando a sua penetração e influência nos países de expressão portuguesa. Como disse Vasco Graça Moura, o acordo é um "diktat" neo-colonial, em que o mais forte (o Brasil) determina a sua vontade ao mais fraco (Portugal). Alguém imagina os Estados Unidos a ditarem à Inglaterra as regras ortográficas da língua inglesa? Ou o Canadá a ditar as do francês à França ou a Venezuela as do espanhol a Espanha?
Dizem que isto vai facilitar a penetração da literatura portuguesa no Brasil, mas ninguém perguntou a opinião aos autores portugueses. Há quatro anos atrás, publiquei um livro no Brasil e, contra a opinião de alguns 'sábios' e as várias insistências da editora brasileira, o livro reza assim na ficha técnica: "A pedido do autor, foi mantida a grafia da edição original portuguesa". Apesar dos agoiros de desastre que essa teimosia minha implicaria, o livro vendeu até hoje cerca de 50.000 exemplares no Brasil. Perdoem-me a imodéstia, mas orgulho-me de ter feito bem mais pela nossa língua no Brasil do que todos esses que se dispõem a vendê-la como coisa velha e descartável."
In: Expresso - http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/175230
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7 comentários:
Boa, Miguel!
CSD
a mim também me mete impressão tratar o protuguês de Portugal e do Brasil como se fossem duas línguas diferentes, dessas tão diferentes que até dificultariam a intercompreensão... mas enfim...
Eu até que gostei muito do Equador, e do Fazes-me falta e de tantos outros livros de autores portugueses que, nas edições brasileiras, mantiveram a ortografia portuguesa. O que me chateia é o tom do Souza Tavares como se a língua fosse algo pelo qual se tivesse de tomar partido em "fortes" opostos. "Ameaçam-nos com o acordo ortográfico" é mesmo a impressão que dá.
Por outro lado, se não há necessidade de acordo, pq os meus amigos engenheiros dizem que se recusam a comprar edições brasileiras de livros técnicos pois é difícil de entender e mt mais fácil é comprar os mesmos livros no original em inglês. Parece que o inglês é muito mais próximo do português de Portugal do que o português do Brasil.
O acordo não tem que ser construído em lado nenhum, mas por lingüistas em uma mesa de negociação, e não é uma naçào que haverá de impô-lo à outra como os pseudo-exemplos propostos pelo mesmo Souza Tavares, sobre o Inglês, o Francês e o Espanhol.
O acordo deveria ser exatamente o queo nome diz, um acordo entre as várias partes envolvidas, que, aliás, contam mais países do que apenas Portugal e Brasil. Vice CPLP e PALOPs
Idinha, arrasaste milhere :)
Saudade imensa de te ouvir dizê-lo. mas, olha, tu tb arrasaste nos dois textos... amei... Envio coments em breve.
Em tempo:
Referia-me ao teu texto sobre a Imagem das Línguas e ao outro a ser publicado na revista Palavras!
Mulher de valor, isto sim é que é valor econômico e outro!!! :)
fico à espera dos comentários tá? e da resposta ao bárbaro convite :)
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